Era uma vez uma aquarela apessoada e bem refugiada pelo seu Criador. Ele a instalara num transparente e dulcificado coração .
Seguia incansável em espargir no universo todo bafejo de cores bem aromáticas.
Numa certa conjuntura, tingia de afogueado sua radiante práxis, vistoso era o elã da tenra, juvenil maneira de pincelar seu sucinto mundo.
Chegou um ciclo maduro, cheio de supressão e, sem descortinar, coloria sua vida de negro, pardo, tons cinzas e enferrujados. Tal e qual sentia seu ser latejar branda e friamente.
Mais para frente, entretanto, muitas décadas ultrapassadas, um anjo guardião lhe obsequiara um balde da cor azul, com pincéis de várias dimensões onde não só se viu matizada dessa tonalidade como também pode tingir a vida de alheios ao seu arrebalde, espalhado pelo mundo afora.
Havia uma medusa inclemente que lhe arrancara de suas caritativas mãos afáveis e obreiras, as mais encantadoras nuances azuladas e, propositalmente, lhe restituíra aquele velho balde vermelho, porém, como era muito desalmada e cobiçosa, o rubro tinha coloração e gustação de sangue, extinguiu-se o brilho tonalizado do passado, tudo ao seu redor exalava pêsames e prostração mortal.
Cabia a ela, juntamente com seu edificador e mantenedor, despejar toda tinta fosca, raspar todas os tapumes internos do seu coração e, mesmo exaurida, pôr-se na melhor dos seus tingimentos de vida: cerúleo do tom do oceano.
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