(foto pessoal Praia das Virtudes Guarapari ES)
Vivia
numa aldeia italiana bem bucólica, sem recursos, com parcos sinais
de desenvolvimento.
Seu
pai lhe havia deixado um comércio modesto donde tirava seu ganha-pão
diário.
Sua
família produzia embutidos muito saborosos, embora sem grande
patrimônio a investir. Além do mais, o lucro não era favorável ao
progresso do estabelecimento que era bem simples, com quitutes
pendurados em varais por uma corda resistente que exalavam um odor
típico do defumado bem curtido. Ficavam assim o dia até o poente
cobrir o horizonte, quando descansavam até o seguinte alvorecer.
Tinha
os fregueses contumazes, os clientes compravam para o consumo
próprio, sem grandes vendas na tenda.
Pedia
ao Pai do céu que a utilização e retorno aumentasse, fosse favorável ao sustento familiar, sobretudo pelos seu irmão ainda menor, sua mãe idosa que a deixavam preocupada.
Numa
certa ocasião de céu contornado de poucas nuvens, apareceu um
forasteiro. Num segundo pensou que fosse um estrangeiro ou alguém da
capital.
Ele
lhe pediu uma degustação dos produtos,
prontamente
ela lhe ofertou, cortou um bocado de cada um, dando prioridade ao
chouriço que era a especialidade da casa. De naco em naco, ele foi
saboreando todos eles, percebeu o bom paladar de cada lasca.
Imaginava
o culatello, guanciale linguiça húngara, mortadela bolonga, copa,
cotechino, lombo maturado, de tão “gustoso” que tudo estava.
O
freguês ficou admirado com a delícia ali produzida, sentindo, na
mastigação, um excelente sabor e qualidade, como bom conhecedor dos
frios italianos.
Ao
fim de uma hora aproximadamente, ele se apresentou, fitando-a bem nos
olhos e lhe dizendo para se apressar e embalar toda sua mercadoria do
balcão.
Prontamente
ela solicitou a ajuda do irmão para empacotar tudo no rolo de papel
grosso apropriado para os alimentos. Lá se foi todo o material que daria
para um mês aproximadamente.
Ficou
ainda mais surpresa quando ele a remunerou em espécie. Era alegria
demasiada num só dia, a Providência Divina sabia de todas as
urgências da família.
Ele,
na despedida, segurou a sua mão de um jeito que lhe deixou
ruborizada, ardendo seu coração, sentindo, na pele delicada e macia
de uma moça aldeã, algo inusitado.
Decorrido
um mês, ele retornou à bodega, acompanhado de uma moça. Veio lhe
fazer uma proposta com sua irmã. Feitas as apresentações de praxe,
falou do seu desejo de fazer uma parceria com a família, uma espécie
de sociedade com tudo legalizado bem
correto nos negócios.
A
moça não sabia como conter sua felicidade pelo retorno do moço que
não cria mais rever, entretanto deveria consultar
seu irmão e mãe. O que ele, prontamente, quis conversar também.
Explicou que traria um advogado da cidade para validar o negócio.
Tudo
correto, dois corações que só almejavam o bem um do outro.
Já
percebiam, na ocasião, que estavam enamorados, não tardaria muito
para levá-la ao altar numa belíssima cerimônia e se mudariam para
Roma. Aconteceu tudo conforme idealizado pelo moço, deixando eles o
comércio aos cuidados do irmão e cunhado, que ficara maior de idade, e outro
empregado.
Vez
por outra, vinham de viagem de férias por lá e seus olhos brilhavam
tanto que encantavam o lugarejo. Eram felizes e seriam para sempre. O
amor não morre num coração que ama verdadeiramente e quando
nada desabona a parceria. Ele inventa motivos para um empurrão em
qualquer tempo e circunstância.