(foto pessoal Anchieta ES)
Ela chega, põe a rede, fica, senta-se no sofá, permanece, vai à cama, insiste, flui na caminhada, continua, finca raízes e matizes, não aceita ser trancafiada.
Tem falta de senso, não pede licença, se alumbra com tudo, não pergunta se pode vir, nem tampouco como deve chegar, arruma um cantinho e se estabiliza.
Traz tudo na bagagem, impulso completo, versos prontos, ideias em ebulição, como um chazinho em fervura, com poemas ditados, sentimentos no coração.
Vem de manhã, ao meio do dia, nas caminhadas por entre as flores, com o canto dos pássaros, no muro da varanda, numa mesinha, sem escrúpulos, impertinente, na noite fria, no chazinho quente, no auge da madrugada insone.
É inoportuna visita, incongruente, insolente simplesmente vem, fixa morada, não pensa em ir embora, no mínimo, dá um descanso, só quando os versos ficam livres, a musa se satisfaz com palavras, emoções e sensações.
Nem pensar em se contentar com pouco, tem apetite voraz, importuna, molesta, companhia constante na natureza, na lida, a cozinha, no fogão, na faxina, na diversão.
É mesmo intrometida, para sorte nossa, fiel, raridade hoje em dia. Permanece desde a infância, rala, com alguns versinhos; na adolescência, sentimental; na juventude, nada convencional; na maturidade, reflexiva; na velhice, é vida.
Parceria indomável, se não fossem tu e tua lábia, que seria de mim na noite fria? És ilusão, sonho, fantasia, magia, moves meus dias, com alegria.
Por gentileza, rebelde amiga, podes despertar sua artesão noite e dia!
Dá solavanco, se estiver dispersa, venha até na contramão, a poetisa promete seguir tua direção, carrega tua menina, não a abandones jamais, sem ti, não é capaz de escrever em prosa ou em verso com sensatez, mesmo na monotonia dos dias.