Um serzinho indefeso nascia no interior de uma cidade pequenina e logo foi batizada.
Mãos poderosas a acolheram cá na Terra. Foi graças a elas que ela viveu, cresceu e ficou bem madura.
Também devido a um cordeiro, tão calmo e compassivo, que ela sobreviveu. Tinha medo, pelo seu temperamento medroso, não ousava desobedecer.
Ele a acompanhou nas vitórias, dizia-lhe emocionado:
- Muito obrigada, filha.
Pedia-lhe cheiros e lhe dava outro em retorno.
Dava um pequeno cascudinho na cabeça para ver se o coco estava maduro. Era alegre, seu bom humor fê-lo vencer grandes desafios.
Era tão, mas tão bondoso, que tinha o apelido de homem molenga, palerma pelos seus familiares, uns em tom de brincadeira, outros não.
O cordeiro foi envelhecendo, os papéis foram se invertendo, de cuidador precisou ser cuidado.
Ele só fez o bem a muitos e, no final da vida, sua filha estava a seu lado, foi ela que lhe deu carinho e lhe agradeceu por tudo:
-Vai com Deus, pai! Obrigada por TUDO.
Seus cheirinhos, como se fossem lambidas, ficaram inesquecíveis e sente muita saudade dos seus dengos, desde então, há exatos dezessete anos.