Sabia que as dezenas de anos estavam se acumulando dia após dia e não lhes causavam estranhamento algum.
Não fossem alguns contratempos típicos da idade, nada as tirava do sério em alguns momentos.
Ambas tinham filhos distantes, cada qual com suas famílias constituídas.
Visitavam ou eram visitadas por eles e seus netos.
Tudo era normal como boas vizinhas do mesmo edifício. Não incomodavam uma a outra, partilhavam quitutes, tomavam cafezinho juntas em alguns dias, iam ao médico e ainda passeavam para espantar males próprios dos anos idos, após consultas e exames que se acumulavam. Uma dava força à outra.
Estranhamento para elas era ver pessoas se digladiando por nada, gente sem noção reclamando de tudo (inclusive do calor ou do frio) sem aproveitar os últimos anos da vida.
Como estranhar a cordialidade, a amizade, a boa convivência da vizinhança? Jamais! Aliás, eram ambas viúvas e os demais dois vizinhos do andar eram casal de também idosos, mas eram pares.
Estranhamento sem noção é a falta de amor ao próximo.